sábado, 26 de julho de 2014

O ato de manifestar

              Manifestar todos se manifestam. Um filho que grita no meio de um supermercado pedindo para seus pais comprarem um determinado doce já é uma manifestação e das mais legitimas.
            No dicionário vemos claramente esse verbete dizendo: “tornar público ou notório; mostrar; revelar, afirmar”. Na sociedade da visibilidade onde ser é aparecer, manifestar-se tornou a coqueluche dos jovens modernos que nasceram nas lentes do Big Brother Brasil e morreram nos fleches do Snap ou Instagran.
            A manifestação, mais do que um meio de expressão e de liberdade que só a democracia pode conceder, é, nos dias de hoje, um meio de visibilidade e status social. A questão é o quanto isso é importante para o país e de que forma se estruturam.
            As pessoas que saem nas ruas não demonstram claramente a defesa que estão fazendo ou bradando em diversos gritos. É uma massa sem consonância que grita por gritar sem ter um mínimo de estrutura e embasamento para estar ali. Vemos isso nas grandes manifestações do ano passado que demonstraram essa disparidade: uns pediam não a corrupção, outros não a copa, alguns falavam de educação e outros ainda criticavam o governo atual. Válido? Tenho minhas dúvidas. Pois quando cada um fala uma coisa ninguém fala nada.
            Falta dar nomes aos culpados. Manifestar por mais isso menos aquilo é digno, mas se não apontarmos o dedo em uma pessoa, nada adiantará. É aquilo que no julgamento dos crimes da Segunda Guerra Mundial chamava-se de “culpa coletiva”. Onde todos são culpados, ninguém é julgado. “Todos os políticos são ruins! Todos são corruptos! Todos roubam” é declarar que ninguém deve ser investigado.
            Vivemos a era da imagem e não estamos nem um pouco preocupados com o conteúdo que estamos demonstrando. O importante é gritar, colocar para fora sem buscar culpados, sem possuir embasamento.
            Enquanto fazemos isso, mudamos a superfície, fazemos a imagem, a figuração, mas a base e a estrutura permanece a mesma.