sábado, 26 de julho de 2014

O ato de manifestar

              Manifestar todos se manifestam. Um filho que grita no meio de um supermercado pedindo para seus pais comprarem um determinado doce já é uma manifestação e das mais legitimas.
            No dicionário vemos claramente esse verbete dizendo: “tornar público ou notório; mostrar; revelar, afirmar”. Na sociedade da visibilidade onde ser é aparecer, manifestar-se tornou a coqueluche dos jovens modernos que nasceram nas lentes do Big Brother Brasil e morreram nos fleches do Snap ou Instagran.
            A manifestação, mais do que um meio de expressão e de liberdade que só a democracia pode conceder, é, nos dias de hoje, um meio de visibilidade e status social. A questão é o quanto isso é importante para o país e de que forma se estruturam.
            As pessoas que saem nas ruas não demonstram claramente a defesa que estão fazendo ou bradando em diversos gritos. É uma massa sem consonância que grita por gritar sem ter um mínimo de estrutura e embasamento para estar ali. Vemos isso nas grandes manifestações do ano passado que demonstraram essa disparidade: uns pediam não a corrupção, outros não a copa, alguns falavam de educação e outros ainda criticavam o governo atual. Válido? Tenho minhas dúvidas. Pois quando cada um fala uma coisa ninguém fala nada.
            Falta dar nomes aos culpados. Manifestar por mais isso menos aquilo é digno, mas se não apontarmos o dedo em uma pessoa, nada adiantará. É aquilo que no julgamento dos crimes da Segunda Guerra Mundial chamava-se de “culpa coletiva”. Onde todos são culpados, ninguém é julgado. “Todos os políticos são ruins! Todos são corruptos! Todos roubam” é declarar que ninguém deve ser investigado.
            Vivemos a era da imagem e não estamos nem um pouco preocupados com o conteúdo que estamos demonstrando. O importante é gritar, colocar para fora sem buscar culpados, sem possuir embasamento.
            Enquanto fazemos isso, mudamos a superfície, fazemos a imagem, a figuração, mas a base e a estrutura permanece a mesma. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Não dá pra defender né?


Chefão do Hamas confessa: grupo terrorista usa, sim, escudos humanos e ainda convoca população a morrer

Quando se fala que o Hamas recorre a escudos humanos no confronto com Israel, o que, obviamente, provoca um grande número de mortos, muitos críticos da política israelense contestam o que é uma evidência. Dizem que essa afirmação faz parte da máquina de propaganda de Israel. Será mesmo?
Abaixo, há um vídeo do dia 8 deste mês. Trata-se de uma entrevista que o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, concede à Al-Aqsa TV, que é a televisão do Hamas. Prestem atenção, em especial a partir dos 32s. Traduzo na sequência.
A tradução
Entrevistador – As pessoas estão adotando o método dos escudos humanos, que foi bem-sucedido nos tempos do mártir Nyzar Rayan…
Porta-voz – Isso comprova o caráter dos nossos nobres, dos nossos lutadores da Jihad. São pessoas que defendem seus direitos e suas casas com o seu corpo e com o seu sangue. A política de pessoas que enfrentam aviões israelenses de peito aberto, a fim de proteger as suas casas, provou ser eficaz contra a ocupação (israelense). Além disso, essa política reflete o caráter dos nossos bravos, que são pessoas corajosas. Nós, do Hamas, convocamos o nosso povo para que adote essa política, a fim de proteger as casas palestinas.
Voltei
É estupefaciente! Aí está a confissão de que o Hamas adota a prática dos escudos humanos e, pior do que isso, faz dela uma política oficial. Só para esclarecer: Nyzar Rayan era um terrorista religioso do Hamas, que foi morto por Israel em 2009. Para se ter uma ideia: ele enviou um de seus filhos numa missão suicida, que matou dois judeus.
Assim, quando afirmo que Israel busca fazer o menor número de vítimas entre os seus e que o Hamas procura fazer justamente o contrário, não estou a dar uma mera opinião, com base em algum achismo ou em algum preconceito. Sami Abu Zuhri, o porta-voz do movimento terrorista, está dizendo que é assim mesmo. Como ele deixa claro, para o Hamas, a morte enobrece e prova a grandeza dos que oferecem o próprio corpo e o próprio sangue para a causa. Nessa perspectiva macabra, quanto mais mortes, mais, então, o movimento teria com que se regozijar.
É assustador? É sim. Como se nota, não colhi essa informação no material de propaganda “sionista”, como gostam de dizer alguns tolos. Eu estou aqui reproduzindo uma convicção e um credo do próprio Hamas. É fácil sair à rua carregando a bandeira palestina porque, afinal, há 190 mortos de um lado e um do outro. A questão é saber como se produziram esses cadáveres. Um dos chefões deixa claro: trata-se de uma política da morte adotada pelo grupo. E eles convocam a população a aderir. Israel avisa previamente quais são os alvos. A ordem é ficar para morrer.
Nessa perspectiva, quanto mais cadáveres, melhor!

fonte:
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/chefao-do-hamas-confessa-grupo-terrorista-usa-sim-escudos-humanos-e-ainda-convoca-populacao-a-morrer/

Analise do Livro:Guerra e Paz, Liev Tolstói

O livro Guerra e Paz de Liev Tostói é um clássico da literatura universal. Foi escrito durante seis anos e possui um embasamento histórico gigantesco, pois ela se passa dentro da século XIX onde encontramos a invasão de Napoleão na Rússia decorrente da revolução francesa.
 A versão original do texto possui mais de 1200 páginas. Esse que escrevo é sobre uma adaptação que buscou mostrar de forma objetiva o cerne do enredo: com casamentos arranjados, a hipocrisia das relações na burguesia russa e os problemas encontrados nos campos de batalha.
Não encontramos uma única história, mas vários enredos que em determinados momentos e ocasiões (festas, jantares) elas se cruzam. É como se víssemos  determinadas famílias e seus comportamentos ao longo daquele período.

Iniciei a leitura com preconceito, mas termino-a indicando a todos que gostam de entender a história por detrás da história.  

Hannah Arendt: A Banalidade do Mal (PARTE II)

A maior polemica estava na analise sobre a capacidade humana de julgar, isto é, aquela faculdade que permite discernir sobre o que é certo e errado.  A obediência como virtude foi à base da condição verdadeiramente desprezível da possibilidade do nazismo enquanto um modelo de assassinatos em massa. O que fez também Hannah impressionar-se com o adesismo inquestionável de parcelas significativas da sociedade alemã, mesmo aquelas altamente formadas nos princípios morais mais sofisticados. “A situação era tão simples quanto desesperada: a esmagadora maioria do povo alemão acreditava em Hitler” por mais educada e moralmente formada que fosse essa sociedade.
Muitas vezes se disse que a asfixia dos doentes mentais teve de ser suspensa na Alemanha por causa de protestos da população e de uns poucos dignitários corajosos das igrejas; no entanto, nenhum protesto desse tipo foi feito quando o programa voltou-se para a asfixia de judeus, embora alguns centros de extermínio estivessem localizados no que era então território alemão, cercados por populações alemãs. (Arendt)
As criticas feitas por Hannah Arendt ao comportamento da sociedade fez elencar três fatores que contribuíram para explicar o fracasso moral vivenciado na Europa daqueles tempos sombrios. Primeiro a teoria da peça de engrenagem; teoria essa que os advogados de Eichmann utilizaram para dizer que ele era apenas mais uma peça de uma grande engrenagem do terror. A promotoria usou a mesma linha de raciocínio e colocou o acusado não como mais uma peça, mas como o motor do Holocausto. Hannah também estava convencida do fato de Eichmann pertencer a uma estrutura organizacional e de que poderia ser trocado,como uma peça, por outro burocrata qualquer, que faria a mesmíssima coisa em seu lugar, pois afinal não se tratava de uma maldade especifica (demoníaca,patológica ou ideológica), mas do cumprimento de funções de Estado.
O segundo ponto refere-se à teoria da culpa coletiva, não tirando a responsabilidade – no caso de Eichmann – do mal realizado. Pois ele, como qualquer outro burocrata, tinha,sim,responsabilidades, pois tinha a possibilidade de escolha, inerente à sua condição humana.  A fidelidade ao trabalho realizado, tantas vezes declarada pelo réu, era um agravante. Se ele se tivesse apresentado à corte dizendo que era obrigado a fazer o que fazia, mas procurava não cumprir plenamente as ordens recebidas a fim de salvar vidas, ele ainda assim seria responsável, mas talvez pudesse contar com alguns atenuantes. Porém Eichmann dizia-se um cumpridor fiel das ordens, que seu ideal de vida era cumprir seu dever e fazer seu trabalho com precisão e eficiência e, ainda mais, sentia-se envergonhado quando no tribunal era levado a admitir que não cumpria algumas ordens recebidas, ainda que essa desobediência tivesse significado salvar centenas de vidas humanas.  Essa responsabilidade não poderia ser universal , mas só poderia ocorrer – segundo Hannah – através da particularidade. Esse era o tema central da ética arendtiana, pois a responsabilidade pessoal não pode ser transferida para um sistema, ainda que se trabalhe sob uma ditadura. Ao rebater essa teoria,a autora insiste na liberdade que caracteriza fundamentalmente a ação humana, que funda e exige toda e qualquer formação moral.  Essa teoria da culpa coletiva surgiu justamente dentro do julgamento de Eichmann que disse que se considerava culpado perante Deus, não perante a lei. Para Arendt a culpabilidade é algo individual, por isso passível de penalidade jurídicas. Ela faz então uma distinção entre culpa (individual) e responsabilidade (coletiva), por considerar que “onde todos são culpados, ninguém é” ou seja, se todos têm culpa, ninguém efetivamente pode ser julgado. Se ninguém pode ser julgado, ninguém é imputável pelos crimes.
O terceiro e ultimo tema dessa critica a sociedade européia daquela época se detêm na voz da consciência . O ponto fundamental é se Eichmann podia ouvir essa voz que chamamos de consciência, se ele podia acessar um conjunto de valores morais que informasse sobre o horror do qual ele fazia parte. Se ele era perturbado por esse outro que nos habita, que às vezes somos nós mesmos e outras vezes um outro moralmente significativo que nos fala.A voz da consciência não é algo dado naturalmente, mas sim algo construído coletiva e intersubjetivamente.

Dessa forma entendemos que as barbáries cometidas por Eichmann não se fundamentam na inveja,no ódio,na cobiça, nem mesmo na estupidez (desconhecimento), mas sim na irreflexão. Essa é a hipótese central de Hannah Arendt em A vida do Espírito. Nessa obra, ela delineia a relação entre a banalidade do mal e o vazio do pensamento. Aquele homem não era monstruoso, enfermo ou demoníaco: nele também não se encontram grandes convicções ideológicas ou partidárias. A mais determinante para explicar seu comportamento era a sua incapacidade para o pensar. O que tornava Eichmann uma aberração era o fato de ele nunca haver experimentado as exigências do pensamento diante dos acontecimentos. A questão que a filósofa se propõe a aprofundar, então, é a ausência do pensamento e sua possível relação com os atos maus. A sua proporção é que a incapacidade de pensar oferece um ambiente privilegiado para o fracasso moral. 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Hannah Arendt: A Banalidade do Mal (PARTE I)

A ética de Hannah Arendt esta muito concentrada num processo de consciência, ou melhor, dizendo, uma formação da consciência para se agir eticamente. Esse processo de pensar que para a autora é um “sair do mundo” pode nos levar até o personagem central que desencadeou essa tomada de pensamento na filosofia de Arendt, Adolf Eichmann.  Esse livro foi considerado o livro mais polemico em língua inglesa da década de sessenta, levando em conta o numero de artigos, cartas publicas, debates, replicas, treplicas, defensores e detratores que a obra envolveu.
            Para iniciar essa caminhada no pensamento ético de Hannah é necessário entendermos primeiramente Eichmann e principalmente seu emprego: o burocrata. Para um burocrata, a função que lhe é própria não é de responsabilidades, mas sim o de fazer. Ou seja, não é o pensar, mas o agir. Daí que o burocrata só sabe dizer: “Eu só cumpro ordens”. Tanto que Eichmann vai dizer em seu julgamento: “Não sou o mostro que fazem de mim”. Sua culpa provinha de sua obediência, e a obediência é louvada como virtude. Sua virtude tinha sido abusada pelos lideres nazistas. Mas ele não era membro do grupo dominante, é bom deixar claro, ele era uma vitima, e só os lideres mereciam punição. Dessa forma Eichmann era considerado um homem virtuoso, pois como ele mês diz no livro A Banalidade do Mal “minha honra é minha lealdade”, mas seu erro foi obedecer ordens e seguir leis, pois ele sempre tomou o cuidado de agir conforme determinações superiores.
            Eichmann era um cumpridor de seus deveres; não se corrompia nem desrespeitava as normas vigentes; cumpria com eficiência o seu dever: encaminhar de maneira eficiente milhares de judeus para a morte. Ele realizou o exercício de livre escolha como se fosse um animal condicionado, não agiu espontaneamente ou tomou iniciativa, ele evitou a responsabilidade e não julgou. Ele agiu como se fosse condicionado. Ele não era um mostro, pelo contrario, era um homem comum. O problema dele era exatamente que muitos eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais, vai dizer Arendt.
            A normalidade de Eichmann assustou Hannah Arendt e coloco-a em busca de novos modelos explicativos para o mal, para além do determinismo histórico e da distorção ideológica do nazismo, negando as teorias do mal como patologia, possessão demoníaca, determinismo históricos ou alienação ideológica. Assim, o mal não pode ser explicado como uma fatalidade, mas sim caracterizado como uma possibilidade da liberdade humana. Eichmann não era um mostro, tanto que era um bom pai de família, um filho exemplar e um irmão dedicado, mas mesmo com essas normalidades seus atos demonstraram uma monstruosidade macabra, já que sua tarefa era de organizar as deportações de judeus, levando-os diretamente para os campos de concentração.  “Eichmann representava o melhor exemplo de um assassino de massa que era, ao mesmo tempo, um perfeito homem de família”. Essa percepção de que Eichmann era um homem comum, de superficialidade e mediocridade aparentes, deixou Hannah Arendt atônita, ao avaliar a proporção do mal por ele cometido. É a partir dessa percepção que ela formula a sua concepção de banalidade do mal.
            O mal é como um fungo, não tem raiz, nem semente, mas espalha-se sobre uma superfície especifica, a massa de cidadãos inaptos para a capacidade de pensar e incapazes de dar significado aos acontecimentos e aos próprios atos.  (Assy,2001a,p.152)
            Precisamos deixar bem claro que a banalidade do mal aqui não significa a inocência do nosso acusado, nem muito menos, que a banalidade signifique normalidade. Primeiro, a expressão banalidade do mal não quer ser uma justificativa para as monstruosidades de Eichmann nem significa que Arendt negligencia a imputabilidade do réu. Hannah Arendt estava convencida de Eichmann era responsável pelos seus crimes e deveria ser punido. Ao descrever Eichmann como banal, ela não visava torná-lo menos imputável, “não estava buscando isentá-lo dos atos ilícitos que efetivamente cometeu, mas compreender o tipo de mentalidade que poderia contribuir para o surgimento de indivíduos como ele” (Correia, 2004, p95). O conceito de banalidade não quer abrir precedentes para uma suposta inocência do réu,m
as tão somente entender um fenômeno.
            Banalidade aqui não entra como algo sem importância, sem valor. Hannah Arendt afirma que a banalidade não significa uma bagatela nem uma coisa que se produza frequentemente. Hannah distingue banal de lugar-comum. Lugar-comum diz respeito a um fenômeno que é comum, trivial, cotidiano, que acontece com frequência, com Constancia, com regularidade. Banal, por sua vez, não pressupõe algo que seja comum, mas algo que esteja ocupando o espaço do que é comum. Um ato mau torna-se banal não por ser comum, mas por ser vivenciado como se fosse algo comum. A banalidade não é normalidade, mas passa-se por ela, ocupa indevidamente o lugar da normalidade. “O mal por si nunca é trivial, embora ele possa se manifestar de tal maneira que passe a ocupar o lugar daquilo que é comum” (Assy,2001ª,p.144).

            Mas como o mal pode tornar-se banal? Como a monstruosidade dos assassinatos em massa puderam tornar-se fatos corriqueiros, trivializados, como se fossem comuns? Como o mal pôde ocupar o lugar da normalidade e esconder o seu próprio horror? Essa resposta só pode ser encontrada em cima de dois termos que a filósofa usa para responder a esses questionamentos: superficialidade e a superfluidade. O mal se torna banal porque os seus agentes são superficiais e suas vitimas consideras supérfluas.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A multicoloração da única cor

           Parece que falar contra as cotas raciais é assinar um documento onde você atesta ser racista.  Vivemos a era das minorias, onde o que importa é ser o mais diferente possível para conseguir reclamar não direitos, mas privilégios. “É a era moderna, que separa o mundo em opressores e oprimidos com base em abstrações coletivas” (CONSTANTINO, 2011, p.286).
            Luis Felipe Ponde, filósofo, escreve em seu livro Guia politicamente incorreto da filosofia a grande verdade da nossa sociedade: “A diferença entre a velha esquerda e a nova esquerda é que, para a velha, a classe que salvaria o mundo seria o proletariado (os pobres), enquanto, para a nova, é todo tipo de grupo de ‘excluídos’: mulheres, negros, gays, aborígenes, índios, marcianos”.
            Hoje para entrar numa faculdade não é necessário mais estudar. Isso é coisa para países evoluídos que diferem assistencialismo de meritocracia. Na colônia chamada Brasil basta você se enquadrar numa minoria e pronto: diploma na mão.
            O problema não esta em apenas dar cotas para negros, índios e surfs, mas mascarar o problema das instituições de ensino. Por que invés de dar cotas, não damos educação de qualidade? Porque não iniciamos um processo educacional verdadeiro e paremos de sucatear o ensino de nosso país? Parece mais fácil dar uma porcentagem das vagas para alunos que nem sabem o que é porcentagem.  
            Nos EUA há mais de 40 anos existe esse privilegio e quando analisamos a condição social do negro o que encontramos? Negros com renda menor e escolaridade inferior à dos brancos.  Cotas não resolvem questões de racismos, nem devem ser medidas temporárias.  É necessário arrumar toda a estrutura que sustenta o negro, o branco, o amarelo no seu percurso educacional. Igualdade não é tirar de quem tem e dar para quem não tem isso o Robin Ou faz, igualdade é dar condições de quem não tem, um dia, com seu esforço poder ter também.
            No Brasil, apenas 25% das pessoas são contrarias as cotas raciais e esse número é bem maior do que o de brasileiros que concluirão uma faculdade. A verdade é que vivemos um “racismo reverso” onde ser branco é questão de ter vergonha e lutar por seus sonhos sendo trabalhador e honesto coisa do passado.    
            Por que um branco deve ceder uma vaga conquistada com mérito a uma pessoa de cor, apenas devido à ancestralidade dela? Se assim o for, tomemos cuidado. Quem sabe um índio não invada a minha casa e reclame de compensação de terras que o homem branco tomou dele?
            A verdade é que nos prendemos num passado e nos esquecemos que temos um presente e nele podemos construir um grande futuro.
            Essa questão de cotas raciais também esbarra em coisas muito simples, como: imagem dois primos, um negro e o outro branco, mas ambos pobres. Porque o negro merece o privilegio e o branco não? Enquanto olharmos o passado e a cor não pintaremos uma nação que finalmente resolveu crescer.
            A grande verdade é que as cotas raciais privilegiam a elite negra burguesa á custa dos pobres brancos, ou você acredita que o negro que “estuda” numa escola onde nem professor tem conseguirá se manter numa USP ou Unicamp?
            Esse privilégio contribui também para aqueles imbecis que acreditam que os profissionais de cor são inferiores confirmando numa possível frase: “Viu? Só entrou por causa de cotas”.
            A beleza de uma sociedade esta justamente na sua multicoloração, mas uma coisa é dar o pincel para pinta-la, outra é entregar o quadro pronto e pedir pra você admirar a paisagem e ali só encontrar um traço mostra os privilegiados dos renegados. Precisamos ter a mente aberta, mas não tão aberta ao ponto de o cérebro nos escapar como dizia Chesterton.


            


terça-feira, 15 de julho de 2014

"Foram felizes para sempre"

            Essa história de: “foram felizes para sempre...” fantasiou e ainda fantasia a cabeça de muitas mulheres e diria até homens quando pensamos no que venha a ser um amor de verdade ou um amor duradouro.
            Fomos influenciados ao longo de nossa história em acreditar que existe sim um príncipe e uma princesa encantada nos esperando em algum canto, montado talvez não mais num cavalo branco, mas pelo menos numa moto ou bicicleta.
            Podemos dizer que o amor é uma construção cultural, variando de um povo para o outro. Citamos como exemplo o amor romântico construído pelo romantismo ou mesmo o amor cortês, criado pela Europa medieval, que tinha que controlar forças que estavam demasiado soltas depois da invasão dos bárbaros.
            Ana Maria Machado escritora, acredita que  “a mulher capta o amor sobretudo pela palavra” e o homem pode até não ser bonito, mas se ele chega com uma conversa macia, dizendo as palavras certas, imediatamente torna-se fascinante, sedutor.  É o papel pedagógico e catequético da literatura, ensinar e mostrar a ilusão da perfeição do amor, sugerindo para cada um que as coisas possuem um começo, um meio e um fim, e que elas fazem sentido e o final é feliz. Deve ser muito chato ser “feliz para sempre”, é melhor ser feliz várias vezes, em vários momentos.
            Jurandir Freire Costa, psicanalista observa que atualmente vivemos num pós-romantismo, saindo de uma fase em que o sentimento era muito valorizado para uma etapa em que se valoriza a sensação. Acho muito apropriado essa observação, pois essa sensação caminha muito próxima da paixão que etimologicamente esta na raiz de “patologia”, pathos, que liga-se ao sofrimento.
Paixão tem de ser aquilo que vai desencadear o impulso, mas o que vai manter a ligação é o sentimento só que é necessário entender que ser feliz é fazer sacrifícios.
            Queremos que o amor seja absoluto e que seja eterno. Isso se torna causa de angustia, tensão, estresse e infelicidade do homem e da mulher contemporâneos, por não conseguirem construir aquele amor ideal que, na verdade, foi divinizado. Nós transferimos para o amor as qualidades de Deus, mas não estamos conseguindo transferir para o amor entre homem e mulher um elemento de ligação (‘religião’ que significa re-ligar). Em outros tempos seria impossível falar em amor sem falar em amor a Deus e ao próximo. As religiões são fundadas na noção de amor. Falta “religião” no amor.
            O ser humano vive uma liberdade e se considera liberal nos tempos atuais em diversos contextos, sejam eles sexuais ou de convívio, mas quando o assunto é relacionamento, ele prende, cerca-se, fecha-se, sufoca o outro para dentro de si. É um medo de perder algo que nunca possuirá por completo.

            Falta nos relacionamentos mais interrogação do que exclamação, pois o ponto de exclamação é um traço reto com um ponto embaixo, que corta, divide, termina, sentencia a conversa, como um punhal. Enquanto a interrogação é curva, como a vida que não possui uma reta, mas que vai se dobrando e desdobrando em cada novo dia, no formato também de uma orelha, que quer escutar a resposta do outro. A interrogação é como o anzol que busca pescar a verdade e talvez o “feliz para sempre” tenha sido uma verdade contada tantas vezes em nossa literatura que acabamos achando possível escrevê-la em nossa vida.

domingo, 13 de julho de 2014

Importamos elefantes brancos

Uma das grandes revoltas desse mundial pode ter sido o alto custo dos estádios e a ideia daquele molusco de fazer uma saga pelos quatro cantos da nossa colônia, colocando campos de futebol onde nem bola se consegue comprar.
                O mal foi feito e não sou daqueles de blusão GAP e iPhone no bolso que reclamam dentro dos seus McDonald’s que essa quantia deveria ser investiga em educação ou saúde, enquanto todo mês a mensalidade do curso de ciências sociais é paga pelo papai capitalista. Sou a favor da festa! E dizer que a Copa do Mundo foi um erro é errar no argumento. O erro não esta em fazer um evento mundial num lugar abençoado e bonito por natureza como nosso país é. O erro se encontra em querer abraçar uma nação do tamanho da nossa colocando obras colossais nesse impávido colosso sem dar conta, ou melhor, olhando para a conta, que ao termino do campeonato só restará mato.

                A África do Sul nos garante essa afirmação. A maioria daqueles suntuosos estádios tornaram-se elefantes brancos  - e nem de fauna estou falando aqui. Talvez essa seja a grande ideia do governo petista: “criar” elefantes brancos em solo nacional, pois segundo eles, tudo que colocam a mão torna-se bom e imaculado. Já que temos “índio” de blusão Adidas e relógio Nike nada melhor para nossa civilização “selvagem” do que alguns elefantes passeando por Manaus, Natal e na sede da fauna brasileira: Brasília.
                O investimento total feito pelo governo brasileiro ultrapassou a casa dos 29 bilhões de reais e nenhum de nós tem noção do tamanho dessa quantia. Nem o petista que levava dólares na cueca no ano de 2005. Talvez se soubesse desse evento passaria antes na loja da  Lupo para reforçar seu estoque de “fundos de investimentos”.
                Por mais que esses números nos assustem nem na trave essas aplicações passariam pelo gol da saúde e da educação. Esse valor ajudaria apenas por 38 dias o nosso tão sofrido time educacional e 52 dias nosso banco de reserva que o governo chama de saúde. O problema não esta em quanto dinheiro colocamos em campo, mas sim na troca de passes que ele sofre, iniciando com 10 e chegando ao destino custando 13.
                A Copa chega ao seu fim e quem terá que alimentar esses elefantes? Nós. Mas de alimentar animais nós já somos craques, donos da camisa 10. Até porque de lula e burros de gravata nós temos um time digno de ganhar a Copa do Mundo.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Sentido do Sentido: uma resposta a Alberto Caeiro

"Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas".

                Desculpa Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), mas tenho que discordar de seu pensamento.  Não há como ser, ser humano e não dar sentido as coisas. O ser humano é aquele que coloca palavra no nada, é aquele que põe significância ao significado. Se não houvesse você, eu, não haveria sentido algum e em nada. Talvez até existisse apenas o nada, ou não, porque para existir o nada é necessário existir um alguém. Agostinho mesmo diz que: “para que houvesse um inicio, o homem foi criado, sem que antes dele ninguém o fosse”. Alberto, não somos um algo, mas somos um alguém.
                Não existe apenas a existência, existe aquele que coloca a existência no verbo existir. Um animal não sabe que existe e nem tem crise existencial. Nós (alguém) é que passamos a colocar existência nele e em nós mesmo.
                Talvez a sua crítica seja com relação ao sentido das coisas. Parece que você diz que as coisas existem e ponto. Não há sentido para elas existirem e novamente discordo. O homem é um fabricador de sentidos. Se não há sentido o homem fica inquieto.
                Jean Paul Sartre,defende um existencialismo ateu e quer mostrar no texto: O Existencialismo é um humanismo que o homem existe antes de tudo porque é ele quem coloca a categoria de ser algo. “O homem é, inicialmente, um projeto que se vive enquanto sujeito, e não como um musgo, um fungo ou uma couve-flor; nada existe anteriormente a esse projeto; nada existe de inteligível sob o céu e o homem será, antes de mais nada, o que ele tiver projetado ser”. (SARTRE,1996,p.26)
                Percebe Alberto, como o texto de Sarte faz consonância com o texto de Agostinho do século III? O homem coloca sentido nas coisas e faz parte quase que da sua biologia. Um homem sem sentido não encontra sentido em ser homem. E depois do seculo XVIII com o ateísmo filosófico, onde a ideia de Deus foi suprimida, o sentido foi ainda mais buscado em cada pessoa.
                É interessante perceber que esse humanismo é superado por um novo giro que através de Levinas tira o “eu” e coloca o “outro, ao ponto de pronunciar que : “eu sou refém do outro”. Paul Ricouer seguira a mesma esteira da alteridade e Habermas colocará uma nova racionalidade através da comunicativa, onde a filosofia e a teologia latino-americanas atuais dão prioridade ao “nós” sobre o “eu” com ênfase na comunidade voltada para a prática da justiça.
                Maria Clara Bingemer, teóloga e escritora do livro:O Mistério e o Mundo mostra que a modernidade prometeu um mundo sem Deus colocando todas as suas esperanças no mercado, na tecnologia e nas ciências e o resultado pode ser facilmente sintetizado em: duas guerras mundias e numa  crise ética e moral sem precedentes na história da nossa sociedade. Tirar aquilo que dá sentido ao humano e pode ser o máximo do metafísico que é a figura de um Deus, é correr um risco de transformarmos nosso mundo numa Sodoma e numa Gomarra.
                Papa Pio XII já dizia que: “o pecado deste século é a perda do sentido de pecado”. Ratzinger segue o mesmo discurso e vê uma crise justamente nessa perda de sentido. Agora, como que você pode me dizer que não tem sentido em colocar sentido as coisas? Nem que eles são morais e éticos?  
                Seu poema me abre os olhos também sobre a importância de crer. O que é ter fé senão colocar sentido? O papel da religião talvez seja justamente isso: colocar sentido, dar caminho. A minha razão pede mais do que uma religião,um ser metafisico que coloca sentido e base para meus pensamentos. Se “Deus está morto”, como anunciou nosso irmão na fé Nietzsche, como explicar essa efervescência religiosa do nosso século?
                Gianni Vattimo, filósofo italiano usa uma expressão para explicar esse movimento da sociedade. Para ele o que esta ocorrendo é um retorno a religião, um retorno em busca de sentidos. Penso eu que talvez nem tanto a busca seja de religião, mas de espiritualidade que coloca sentido as coisas. Nietzsche e a modernidade prometeram um super homem, mas o que nos entregaram foi um velho gibi com histórias antigas.
                A religião, e mais do que ela, crer, demonstra que o ser humano é um ávido animal desejante por sentidos. “Crer significa possuir uma confiança básica na vida. Contar com uma convicção não demonstrável, mas segura, de que a vida e o mundo possuem um sentido, uma lógica e uma finalidade, ainda que às vezes dificilmente compreensível”. (BINGEMER,2013,p.181).
                A fé, aquilo que de certa forma da sentido as coisas é um escândalo para a razão como São Paulo disse: ‘credo quia absurdum”, mas quem é racional o tempo inteiro talvez perca alguns sentidos da vida.

                E o que é estar vivo? Talvez para você Alberto, nada,mas para tantos outros, tudo. Depende do sentido que você coloca.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

E a Copa esta acabando... Mas tem Campeonato Brasileiro!!!


                Muitos falaram que não haveria copa, que o país iria parar e tudo seria um caos. Ônibus, trem, metro, manifestações, quebra-quebra. O desenho pintado beirava um apocalipse tupiniquim, mas o que foi visto realmente caracterizou-se mais como uma Epifânia do que como o último livro das Sagradas Escrituras.
                Os estádios funcionaram, os times deram show dentro das quatro linhas e a festa invadiu as ruas. Claro que problemas se encontram em todos os lugares e não só na copa do Brasil, mas na da África e na da Alemanha também entraram em campo. As criticas que podem surgir – e são extremamente legitimas – são aquelas sobre o superfaturamento, os preços dos ingressos, para quem a copa foi feita e um verdadeiro abismo quando comparamos esse evento mundial frente à infraestrutura do nosso país.
                Durante trinta dias o país, em sua maioria, assistiu,torceu, acompanhou com caneta na mão e tabela na mesa, jogo por jogo do mundial. O futebol não é o único pensamento do povo que tira os olhares da política e dos sérios problemas do nosso país, do nosso governo, da nossa sociedade. Nosso povo sequer coloca os olhos sobre esses assuntos. Então como dizer que o povo desvia os olhos dos problemas sérios se eles nunca o colocaram verdadeiramente?
                Não somos um povo político. Nem política temos direito nessa colônia. Aprendemos que política é enriquecer-se e o slogan eleitoral válido é: “ele rouba, mas ele faz alguma coisa”. O que nos interessa é se ao final do jogo algum dinheirinho irá pingar na minha conta estatal. 
                Não lemos política, não debatemos política e principalmente não somos ensinados a fazer política. O futebol não é um pensamento da massa, é a própria massa. A copa esta acabando e qual será o assunto agora? Política? Não. Campeonato brasileiro.  Isso é tão claro que se numa roda de conversa o assunto começa a cheira política as pessoas começam a mexer em seus celulares atualizando seus perfis.
             Futebol é o próprio povo. Povo esse que torce pelo esporte que da certo, para o esporte que esta dando status. Veja o basquete na época de Oscar, a formula 1 de Ayrton Senna, o tênis de Guga e a seleção brasileira treinada por Bernardinho. Somos oportunistas por natureza, não só no esporte, mas na forma de encarar a política. E o governo atual alegra o seu povo, porque da à oportunidade para aqueles oportunistas que querem ganhar dinheiro sem precisar entrar em campo e lutar por ele.
            Não vejo o futebol como uma alienação. Alienação são os militantes petistas que não conseguem discutir com outros que pensam diferentes. Quem consegue conversar com petista? Só outro petista. Porque qualquer opinião contrária começa o show das frases prontas: “isso é infundado, pesquise melhor suas informações, você esta sendo contundente, esta tendo uma visão superficial, leia a reportagem de não sei quem, seus números não são precisos e tantas outras mais”.
             No dicionário lemos: “Os indivíduos alienados não têm interesse em ouvir opiniões alheias, e apenas se preocupam com o que lhe interessa, por isso são pessoas alienadas. Um indivíduo alienado pode ser também alguém que perdeu a razão, está louco”. E só sendo louco mesmo para acreditar num presidente que não gosta de ler e numa periquita de pirata que não consegue administrar uma loja de 1,99. E piratas eles são desde sempre, deixando no chinelo Jack Sparrow e companhia limitada.
              Talvez o Capitão Gancho inveje a mão do Lula, mas isso é facilmente resolvido com uma cota para menos favorecidos e uma enxurrada de criticas dos “politicamente corretos” sobre a canção da Eliana dos dedinhos. Tudo resolvido e bola pra frente!
            Futebol é feito de oportunidades e fazer gol é ser oportunista. Talvez por isso o nosso país possua cinco estrelas no peito e infelizmente uma estrela no governo.