domingo, 22 de junho de 2014

Educação sem educação?


            A palavra, o conceito e até mesmo suas utilidades já foram amplamente discutidas e continuaram a ser discutidas ao longo da nossa história: a importância da educação.
            Bem sabemos que a educação é considerada por muitos como a base de um futuro, senão perfeito, pelo menos o mais próximo do perfeito para um país. Presidentes defendem, astros de televisão elogiam e até mesmo o pipoqueiro fará sua apologia. Por isso, o que leremos logo abaixo não será uma defesa da educação, nem mesmo um tear de elogios sobre suas consequências, mas a tentativa de responder, minimante a seguinte questão: o que caracteriza uma boa educação? Os formandos que saem das universidades saem educados ou apenas formados?
            Os dois termos deveriam andar juntos no caminho educacional do jovem. Formar e educar são coisas que eu entendo como distintas, mas que juntas formariam não só grandes profissionais, mas também grandes seres humanos. Andamos talvez formando jovens e educando ninguém.
            Formar é colocar numa fôrma, num molde, num jeito, e isso quem faz é a profissão. A forma do médico, o molde do arquiteto, ou seja, aquilo que caracteriza a profissão da pessoa. Agora educar é um trabalho além de formar, é dar ao ser humano bases para ele relacionar-se com as formas e fôrmas dos que estão a sua volta.
            A meta da maioria dos alunos que cursam o Ensino Médio é entrar na universidade e sentirem-se como aqueles corredores que levantam os braços quando aproximam-se da fita presa no arco de chegada de uma longa corrida, com a sensação dever cumprido. Só que em nenhum momento passa pela cabeça desses corredores frenéticos em busca de diploma o que se levou na bagagem além de saber quantos pontos seriam necessários para conseguirem a aprovação em determinado vestibular.
            O método de ensino que encontramos na maioria das escolas (e principalmente nas particulares) é o método da maratona. O fim é a entrada na universidade. O que será de você? O quanto bom você será enquanto ser humano, isso não é problema deles – há não ser que esteja descrito no contra cheque da mensalidade.       O importante é “meu” aluno estar dentro da federal, da estadual ou de uma conceituada instituição de educação superior.
            Essa é a educação Tão superior que diariamente nossos alunos são bombardeados do primeiro ao último professor: o seu futuro, é o seu diploma. O grande ensino superior é esse: formamos médicos e engenheiros e ponto. E ponto. E ponto. Transformando-se em reticências, em assunto não acabado o que seria educação.
            Jonh Stuart Mill, filósofo e economista do século XIX dizia que: “O propósito das universidades não é produzir advogados, médicos ou engenheiros competentes. É criar seres humanos capazes e cultos”. No século XIX ainda formavam advogados, médicos e engenheiros competentes, isso já era alguma coisa.
            Vamos percebendo que a nossa educação ficou tão educada com a didática do capital que um diploma, mais do que um premio a inteligência, tornou-se um bônus salarial. O comércio como brilhante professor que é, educa tudo, inclusive a educação. E  ela que de boba não tem nada, logo tornou-se a primeira da classe.
            Esse modelo econômico educacional que infiltra-se nas salas de aula é nitidamente percebido quando pensamos que um graduando moderadamente aplicado consulta em média oitocentos livros ao longo de seu processo de formação e isso é muita coisa quando percebemos que hoje lemos mais que Agostinho e Dante leram na suas épocas.Então porque não encontramos Agostinhos de Hipona nos corredores universitários? Estamos encontramos eu acho, muito mais Agostinhos como aquele do seriado da Grande Família.
            Alain De Botton em seu livro Religião para ateus diz que: “o problema está sem dúvida em nossa maneira de assimilar, não na extensão de nosso consumo [...] Nenhuma das instituições seculares dominantes tem um interesse declarado em nos ensinar a arte de viver”. Será nesse livro que ele entenderá, como ateu, o modelo pedagógico religioso como um modelo a ser imitado na sociedade secular em que vivemos.  
            O cristianismo tem como educação mudar a vida enquanto a educação secular preocupa-se em passar informação. Assim formamos médicos, advogados e professores e não pessoas educadas, preocupadas com os outros, cidadãos verdadeiros. “A educação secular fornece aulas, o cristianismo, sermões. Em termos de intenção, poderíamos dizer que uma se preocupa em transmitir informação, a outra, em mudar nossa vida”.
            Talvez precisemos parar e analisar um pouco o que temos dentro de nossas salas de aula: diplomas,profissões ou seres humanos que diariamente relacionam-se com os outros e convivem com seus fracassos e vitórias.
           
Bibliografia
BOTTON, Alain. Religião para Ateus. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011.