(C O N T I N U A Ç Ã O ) . . .
Um segundo momento que utilizamos como
análise foi o texto escolhido por Adriano Lisboa do livro Felicidade Clandestina, chamado: Menino a bico de Pena.
Nesse conto, Clarice
conta a visão de um menino pequeno, que ainda mal se sustenta com as próprias pernas
e duas frases nos servem como análise. A primeira que esta dentro deste
parágrafo:
[...]Cambaleia
sobre as pernas, com a atenção inteira para dentro: todo o seui equilíbrio é
interno. Conseguindo isso, agora a inteira atenção para fora: ele observa o que
o ato de se erguer provocou. Pois levantar-se teve consequências e
consequências (LISPECTOR, 1999,p.22)
“Pois
levantar-se teve consequências e consequências”. É com essa frase que podemos
filosofar pensando que o ato de levantar, é o ato de ser visto, de ser alguém. Quem levanta, levanta para fazer alguma coisa.
Esse ato de estar em pé é um movimento de ação, de agir. E isso concorre para consequências. Quem fala,
quem “levanta-se” na vida, provoca efeitos aos que observam quem se levantou.
Dante
Alighieri (1265 – 1321), poeta, escritor e político italiano utiliza da ação
como forma de revelar quem se é. “Pois em toda ação o que é visado
primeiramente pelo agente, quer ele aja por necessidade natural ou por livre
arbítrio, é revelar sua própria imagem”.
Hannah
Arendt também trabalha com o conceito de ação, sendo parte da condição humana
entendida por ela. É a ação, esse “levantar-se” que faz a pluralidade humana,
que ao mesmo tempo trás uma igualdade, pois todos se entendem quando falam, e também,
ao mesmo tempo, todos são distintos, pois cada um, com a ação, possui a
categoria de ser único. “Agir [diz ela] em seu sentido mais geral, significa
tomar iniciativa, iniciar (como indica a palavra grega archein, ‘começar’, ‘conduzir’ e, finalmente ‘governar’) imprimir
movimento a alguma coisa” (ARENDT, 2012, p.221). Nessa esteira de pensamento,
encontramos também Santo Agostinho que entende o nascimento do homem, como
principio do início de alguém. Sem o ser humano nada haveria iniciado. “para
que houvesse um inicio, o homem foi criado, sem que antes dele ninguém o fosse”
(AGOSTINHO, 2012, p.20). Não é um algo, mas um alguém que, ele próprio, é um
iniciador. Esse levantar-se que Clarice diz que gera consequência ainda faz
sonoridade com Arendt quando ela diz: “O fato de o homem ser capaz de agir
significa que se pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o
infinitamente improvável” (ARENDT, 2012, p.222).
( C O N T I N U A . . . )