domingo, 29 de junho de 2014

“Verás que um filho teu não foge á luta”

             O Hino Nacional é considerado um dos quatro símbolos oficiais do nosso país, ao lado do selo, da bandeira nacional e das armas nacionais. Foi escrito por Joaquim Osório Duque Estrada no século XIX e tem por características mostrar o que é o povo brasileiro, sua cultura, suas riquezas.
                Durante essa Copa do Mundo escutamos inúmeras vezes nosso hino sendo cantado pelos quatro cantos de nosso país. Mas uma frase em especial me preocupa: “verás que um filho teu não foge á luta”. Talvez estejamos vivendo na atual conjuntura política e social de nossa nação uma verdadeira luta para retirada dessa tão importante marca de nosso povo: um povo trabalhador.
                O governo papai a cada dia que passa coloca mais comida na boca de seus filhos, como um passarinho faz com seu filhote, sem necessitar de esforço e preocupação. O que até então seria louvável e aplaudido torna-se um grave problema.  Parece que esse governo assistencialista ao extremo, paternalista no último nível, quer modificar seu hino nacional quando ele diz: “filho teu não foge a luta”, para “filho teu não precisa lutar”.
                Keyserling, filósofo alemão dizia que “não se pode conseguir nenhum progresso verdadeiro querendo facilitar as coias” e em nosso país não só facilitamos, como deixamos o fácil ainda mais fácil. Que povo estamos construindo? Que sociedade teremos em 2020? Talvez nem precisássemos ir tão longe, mas que sociedade temos agora?
                Estamos formando uma sociedade que não precisa lut ar, que não precisa trabalhar mais, porque o governo entrega de forma sem precedentes mesadas e mesadas à custa de uma pequena classe, essa sim “povo brasileiro”, que ainda não foge a luta e trabalha de sol a sol.
                Trocamos a meritocracia por facilidades. Vestibular? Cota. Concurso publico? Cota. Emprego? Não precisa, ganhará a sua bolsa. Quer que seu filho seja bem sucedido? Receita simples: seja negro, estude em escola publica e se possível procure alguma descendência indígena na sua arvore genealógica que todo o futuro dele estará garantido, sem precisar ficar horas e horas debruçado sobre livros. 
                Não estou aqui defendendo o extremo de uma sociedade sem interferência estatal, mas uma interferência que não mascare os problemas de sua nação entregando tudo de mão beijada e abraçada, sem mostrar que isto esta sendo dado enquanto o problema esta sendo resolvido.
                Nosso país não resolve problemas, ele os esconde debaixo de um lindo tapete, que custou mais caro do se ele resolve-se solucionar a deficiência na hora.
                Trocamos um país que vai a “luta”, para um país que vai ao self service do governo com seu cartãozinho ou sua certidão de nascimento. É um puro “João sem bracismo” macunaímico.
                No livro Manifesto do Nada na Terra do Nunca lemos uma grande verdade: “Através do pior, nos convencemos ser os melhores. Ninguém em outra parte do globo teve a cara de pau de edificar uma tese na qual o menos gabaritado, o mais incapaz, é eleito de forma triunfal como um ser divinizado por sua absoluta falta de condição de competir com outras culturas, por sua displicente ausência de mérito. Tudo aqui é distribuição. Nada se conquista” (LOBÃO,2013.p.190).
                Essa falta de meritocracia em nossa sociedade atual é um movimento que se alastra não mais pela “revolta do proletariado”, mas pelo novo momento da esquerda política, que acredita que a classe que salvará o mundo não é mais o pobre trabalhador da industria, mas todo tipo de “excluídos”: mulheres, negros, índios,gays, marcianos. No livro Esquerda Caviar além de outras pérolas Rodrigo Constantino diz: “Vitimização grupal, de modo que bastaria nascer parte de alguma ‘minoria’ para merecer privilégios. É a era moderna, que separa o mundo em opressores e oprimidos com base em abstrações coletivas” (CONSTATINO,2013,p.286).
                O slogan do governo: “Brasil: um país de todos” na verdade deveria ser outro: “Brasil: um país dessa minoria, daquela minoria e daquela outra minoria que não esta dentro dessa minoria”.  As cotas raciais (e ainda farei um texto sobre isso) é a própria mostra dessa distribuição, onde a elite negra se beneficia á custa de pobres brancos.
                Enquanto falarmos de raça, falaremos de preconceito. Morgan Freeman em uma entrevista responde quando perguntado sobre o Dia da Consciência Negra: “o dia em que pararmos de nos preocupar com consciência negra, amarela ou branca, e nos preocuparmos com a consciência humana, o racismo desaparecerá”.  Onde esta a igualdade quando se divide em brancos, pretos e amarelos?
                Essa distribuição, esse nivelamento por igual de todos, é tão clássico que o maior exemplo é dentro da sala de aula. Cada vez mais aprendemos que não existe gente que não possa estudar, e até ai concordo, mas dizer que todos são inteligentes, isso é uma burrice. “Os melhores lideram, os médios e medíocres seguem [...] Uma das maiores besteiras em educação é dizer que todos os alunos são iguais em capacidade de produzir e receber conhecimento” (PONDÉ, 2012, p.38).
                Ayn Rand, filósofa norte America afirmava que a maior parte da humanidade sempre viveu ás custas de uma minoria mais capaz e mais inteligente. Poucos carregam muitos como afirma Luis Felipe Pondé em seu Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. Não são opiniões fascistas, mas sim a constatação que não há mais como viver num mundo utópico.
                Talvez nosso hino nacional já não seja mais tão nacional assim, pois estamos transformando um povo lutador em um povo recebedor. Que se acha inteligente, se acha trabalhador e acima de tudo, se acha digno de cantar o hino nacional com a cara pintada de verde amarela tendo por baixo uma pela camada de verniz (custeada pelo governo , é claro).


sábado, 28 de junho de 2014

Moramos no PAÍZ DO FUTEBOL


            Hoje foi comprovado que o nosso país é sem sombra de dúvidas o país do futebol.
Estamos longe, e bem longe, de sermos uma nação da educação.
            Nas oitavas de final da Copa do Mundo, o povo brasileiro deu mais uma lição para todo o planeta que seus filhos “deste solo és mãe gentil”, fugiram da aula de civilidade e de gentileza não possuem quase nada. 
            Durante a execução do Hino Nacional do Chile – que pode não ter cinco estrelas no peito da camisa, mas tem muito mais estrelas que a gente em outros times como: educação, IDH, inflação  – a torcida brasileira, e diga-se de passagem, uma torcida que deve ter estudado em grandes colégios particulares, vaiou quando os cidadãos chilenos cantaram o hino de seu país a capela, como nós de forma tão linda fazemos. Se a copa é para todos e a festa também, o porquê de nós brasileiros reagirmos dessa maneira? Seria inveja? Seria mesquinharia, já que nós iniciamos esse movimento que faz velhinhos  chorarem e crianças cantarem o hino com a mão no peito?
            Dizem que um elefante já está pronto para a vida adulta aos dois anos de idade enquanto um homem demora vinte. O brasileiro que adora dar o seu “jeitinho” talvez demore um pouco mais, pois no Brasil, e só aqui,  é chique atrasar um pouco, e no campo da educação não seria diferente, é cRaro.  
            Vivemos num país onde a pobreza é o orgulho, e ser gente boa é falar errado, usar chinelo gasto e amar um dinheirinho do governo papai.  Somos o povo que tem como herói Macunaíma, que tem intelectuais que amam a simplicidade, enquanto a simplicidade ama o luxo. O funk esta ai que não me deixa manda um caô: Nenhum dele esta falando de havaianas, cerveja Bavaria, ônibus lotado e casa sem foro. Pelo contrario, o que sai da boca, e às vezes nem entra por ela, é champanhe, Ferrari, mansão e tênis Nike.  Esse é nosso povo que aprendeu a ser pobre, mas que não vê luxo nenhum em não ter dinheiro. Somos ainda uma chula capitania hereditária.
            Essas vaias que tristemente escutamos do povo brasileiro em cima do hino chileno é o que temos para mostrar. Da mesma forma quando "nossa" presidente foi xingada na abertura da copa pela “elite branca”. E a Dilma deveria agradecer que foi essa elite que se manifestou, pois na teoria elas possuem mais estudos, mais instrução. Imagine se fossem  pessoas que não estão nessa elite? o buraco seria mais embaixo (se é que tem como ser mais embaixo o buraco)
            A copa no nosso país não é para todos porque nem um terço da população consegue entender o que é um presidente e o que é o Lula.  Talvez amemos as nossas matas, florestas e campos, porque elas não abrem a boca para mostrarem a educação que receberam.
            Pena que o país não é feito de fauna e flora, mas de cidadãos que deveria ser “gigante pela própria natureza”, mostrando que “um filho teu não foge à luta”, mas como falar em luta se ele já foge daquilo , que aqui, chamamos de escola e em outras civilizações futuro?


Análise do Livro: Orfãos do Eldorado, Milton Hatoum

Li esse livro na tarde de hoje. 
Peguei sem muita expectativa como sempre faço com literatura brasileira. 
Nada contra ela,mas cada um possui o seu gosto. 
Já tinha ouvido falar muito desse autor e talvez por isso essa leitura me despertou.
Li num fôlego só.
Um livro pequeno de 102 páginas. 
A história nos prende e nos envolve com as características de uma literatura regional. 
Não tem como ler aquelas páginas e não se sentir um pouco amazonense.
Confesso que ao final, por incrível que pareça, queria que a história não acabasse. 

Clarice e a Filosofia (Parte 3 de 3)

(C O N T I N U A Ç Ã O)

Um segundo parágrafo encontrado nesse conto é ao seu final quando Clarice escreve:

Quase desfalece em soluços, com urgência ele tem que se transformar numa coisa que pode ser vista e ouvida senão ele ficará só, tem que se transformar em compreensível senão ninguém o compreenderá, senão ninguém irá para o seu silêncio, ninguém o conhece se ele não disser e contar, farei tudo o que for necessário para que eu seja dos outros e os outros seja meus, pularei por cima de minha felicidade real que só me traria abandono, e serei popular, faço a barganha de ser amado, é inteiramente mágico chorar para ter em troca: mãe. (LISPECTOR, 2009, p.24).

            Como é perceptível no início do parágrafo a questão da linguagem e como a linguagem é importante para a filosofia. Para ser alguém, segundo Clarice é necessário “disser e contar”. Danilo Marcondes na apresentação do seu livro: Textos básicos de linguagem, disse: “Talvez a linguagem seja uma dessas coisas, como diz Wittgenstein, que por nos serem mais familiares são as mais difíceis de entender. Por isso mesmo, desde o início da filosofia, na Grécia Antiga, a linguagem tem sido um de seus temas centrais” (MARCONDES, 2010, p.09).
            Clarice trabalha essa temática no fim do conto como se mostrasse o homem como Zóon Logikón, como um homem racional, podendo ser entendido esse logikón como logos, palavra, fala. Aristóteles trabalha com esse conceito de homem racional e mostra que fisiologicamente o ser humano possui o “corpo” para falar.   
            A passagem abaixo mostra a concepção aristotélica da linguagem, na medida em que aqui o filósofo se refere á língua (glossa) propriamente dita, demonstrando que a linguagem não depende apenas da mente, mas da própria fisiologia humana.

O uso dos lábios em todos os animais, exceto no homem, consiste em preservar e proteger os dentes, e por isso a forma específica pela qual os lábios são formados é relativa ao grau de beleza e de perfeição da natureza dos dentes. No homem, os lábios são macios e carnudos, capazes de se separarem. Seu propósito, como nos outros animais, é proteger os dentes, mas também têm o propósito mais elevado de contribuir, justamente com outras partes, para a faculdade humana da fala. Pois assim como a natureza fez a língua (glossa) humana diferente da dos outros animais, e como costuma ser sua prática, fez com que ela servisse a dois diferentes propósitos, o paladar e a fala, o mesmo se pode dizer em relação aos lábios, fazendo-os servir tanto para a fala quanto para a proteção dos dentes. (ARISTÓTELES, 659b28-660a14).

            Vemos como Aristóteles no início da filosofia na Grécia Antiga preocupa-se com a questão da linguagem e como seus posteriores também trabalharam esse tema. Podemos afirmar sem erro que a linguagem esta intimamente ligada com a filosofia e variáveis filósofos tomaram seu tema para analise.
            Ainda nesse parágrafo, um segundo momento é percebido como análise filosófica – não desconsiderando outros pontos que podem ser tratados filosoficamente, mas que nesse artigo não aparecerão. “Pularei por cima de minha felicidade real que só me traria abandono, e serei popular, faço a barganha de ser amado”.  Fica claro, primeiramente, a questão de deixar a felicidade como secundaria para agradar aos outros. Segundo a autora, se irmos em busca de nossa felicidade acabaremos sozinhos.  Essa “barganha de ser amado” que ela trata no final do parágrafo, nada mais é do que uma troca de interesses. Barganhar é trocar algo que se tem por algo que não se tem.
            Outro conto de Clarice Lispector que utilizaremos como análise chama-se Amor e pode ser encontrado no livro Laços de Família. Nesse texto duas coisas ficam claras: a primeira o ato de espantar-se já trabalhado acima no texto e a segunda: a falta de coragem. Uma dona de casa, que percebe que não é ela que esta vivendo a vida, mas a vida que esta vivendo ela a partir do momento em que vê um cego mascando um chiclete no meio da rua. Essa senhora, sai atônita pela rua, enxergando pela primeira vez o que havia de sentido no seu dia a dia.
            Essa busca de sentido é talvez o sentimento que mais aflija o homem moderno. Ele não consegue pensar em viver uma vida onde nada do que ele fez e faça não tenha alguma repercussão. Alguns vão dizer que o sentido da vida é não ter sentido. E a dona de casa do conto de Clarice é impactada com essa pergunta que surge de uma imagem cotidiana e da queda e quebra de ovos que ela levava nas mãos.
            Essa quebra dos ovos pode ser entendida como a saída da personagem de sua proteção, do conforto, que existia no cotidiano, nessa banalidade do um dia após o outro. Quando os ovos se quebram, quebra também a fachada de vida feliz e com sentido que aquela mulher achava que possuía.
            O erro dela foi não possuir a coragem de lutar em busca de resposta sobre o sentido da vida. Preferiu voltar ao final da noite para sua casa, deitar ao lado de seu cotidiano marido e antes de dormir deixar uma lagrima de covardia correr pelo seu rosto.
            O último conto aqui estudado será A Bela e a Fera ou A ferida grande demais que pode ser encontrado na obra A Bela e a Fera, onde uma mulher muito rica se depara pela primeira vez com um mendigo pedindo dinheiro. O susto da milionária é tão grande que ela não sabe a quantia que deve entregar ao pedinte.  Fica claro no texto que no fundo todos são mendigos. Todos pedem, imploram por esmolas dos outros. Sejam elas: amor, confiança, carinho, atenção e até a mais pobre das esmolas que é o dinheiro.
            “– Como é que eu nunca descobri que sou também uma mendiga? Nunca pedi esmola, mas mendigo o amor de meu marido que tem duas amantes, mendigo pelo amor de Deus que me achem bonita, alegre e aceitável, e minha roupa de alma está maltrapilha...”.
            Essas esmolas, que no fundo sempre são os dinheiros trocados, o troco de determinada coisa que compramos, é também a esmola que damos aos outros. Entregamos aos outros o que resta de nós. Nunca somos inteiros para as pessoas, mas pequenas frações que vão se dividindo cada vez mais num mundo moderno e acelerado.  Tem uma frase que ilustra muito a situação, não só da personagem de Clarice, mas da conjuntura atual: “Quem vive de migalhas, esta sempre com fome”. Ou seja, quem vive com um pouquinho de um, pouquinho de outro, esta sempre com necessidades. Pouco amor, pouco carinho, pouca atenção, nunca será atenção, nunca será carinho nem nunca será amor completo. O ser humano sempre terá necessidades enquanto a sua necessidade for pequena.

            Percebemos que Clarice além de ser uma grande escritora pode, com facilidade ser incorporada no estudo da filosofia. Não talvez como filósofa, mas com certeza como objeto de estudo da filosofia.


( F I M )

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Clarice e a Filosofia (Parte 2 de 3)

(C O N T I N U A Ç Ã O ) . . . 
           
        Um segundo momento que utilizamos como análise foi o texto escolhido por Adriano Lisboa do livro Felicidade Clandestina, chamado: Menino a bico de Pena.
            Nesse conto, Clarice conta a visão de um menino pequeno, que ainda mal se sustenta com as próprias pernas e duas frases nos servem como análise. A primeira que esta dentro deste parágrafo:

[...]Cambaleia sobre as pernas, com a atenção inteira para dentro: todo o seui equilíbrio é interno. Conseguindo isso, agora a inteira atenção para fora: ele observa o que o ato de se erguer provocou. Pois levantar-se teve consequências e consequências (LISPECTOR, 1999,p.22)

            “Pois levantar-se teve consequências e consequências”. É com essa frase que podemos filosofar pensando que o ato de levantar, é o ato de ser visto, de ser alguém.  Quem levanta, levanta para fazer alguma coisa. Esse ato de estar em pé é um movimento de ação, de agir.  E isso concorre para consequências. Quem fala, quem “levanta-se” na vida, provoca efeitos aos que observam quem se levantou.
            Dante Alighieri (1265 – 1321), poeta, escritor e político italiano utiliza da ação como forma de revelar quem se é. “Pois em toda ação o que é visado primeiramente pelo agente, quer ele aja por necessidade natural ou por livre arbítrio, é revelar sua própria imagem”.

            Hannah Arendt também trabalha com o conceito de ação, sendo parte da condição humana entendida por ela. É a ação, esse “levantar-se” que faz a pluralidade humana, que ao mesmo tempo trás uma igualdade, pois todos se entendem quando falam, e também, ao mesmo tempo, todos são distintos, pois cada um, com a ação, possui a categoria de ser único. “Agir [diz ela] em seu sentido mais geral, significa tomar iniciativa, iniciar (como indica a palavra grega archein, ‘começar’, ‘conduzir’ e, finalmente ‘governar’) imprimir movimento a alguma coisa” (ARENDT, 2012, p.221). Nessa esteira de pensamento, encontramos também Santo Agostinho que entende o nascimento do homem, como principio do início de alguém. Sem o ser humano nada haveria iniciado. “para que houvesse um inicio, o homem foi criado, sem que antes dele ninguém o fosse” (AGOSTINHO, 2012, p.20). Não é um algo, mas um alguém que, ele próprio, é um iniciador. Esse levantar-se que Clarice diz que gera consequência ainda faz sonoridade com Arendt quando ela diz: “O fato de o homem ser capaz de agir significa que se pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável” (ARENDT, 2012, p.222). 

( C O N T I N U A . . . )

O “Não é possível” da fé - Kafka

           Franz Kafka no livro organizado por Modesto Carone – um especialista do autor no Brasil – chamado Essencial, coloca no final de sua obra, antes do clássico A Metamorfose, alguns aforismos do autor.  
            Aforismo tem como característica uma escrita limitada, breve por definição, mostrando como que uma sentença, resumindo uma doutrina. Nessa reunião de textos kafkianos, citado acima, o organizador propõe 109, e o último nós colocamos como reflexão:
            “Não se pode dizer que estamos carentes de fé. O simples fato de nossa vida é, por si só, inesgotável em seu valor de fé.  Seria isso um valor de fé? Não é possível não viver. Já nesse ‘não é possível’ reside a força insana da fé; é nessa negação que ela assume sua forma”.
            Não recorrendo à religião, nem em livros sagrados, mas utilizando de um autor do século XIX, comparado a Proust e Joyce, Kafka tenta resumir o que venha a ser a fé. Ter fé para ele – e aqui opinião de um simples leitor – nada mais é do ver nesse “não é possível” toda a síntese do acreditar.
            A fé – e aqui pode ser em Deus ou algo menos metafísico – é justamente esse confiar no impossível. Naquilo que não encontra mais explicações racionais.
            Não estamos dizendo que ter fé é irracional, mas é a resposta que preenche o espaço da dúvida num mundo onde a falta de sentido ganhou sentido no recebimento de um sms pelo celular ou numa demonstração de carinho virtual por uma rede social.
            Encontramos essa impossibilidade em diversas frases do nosso cotidiano: “não é possível que o mundo tenha sido criado do acaso” ou mesmo “não é possível sair daquela cirurgia” e tantas outras exclamações que vamos pronunciando ao longo da vida sem compreender que ali esta subentendido um sentimento de fé.
            Ter fé é mais do que um conceito religioso.  É um motor de vida.  Ter fé é acreditar até o fim que existe algum sentido em algum lugar, em alguma ação.
            Hannah Arendt em seu texto Compreensão e Política chega a pronunciar que a divisão esta no pensamento, enquanto a união esta na fé. “A Razão é o que nos divide, a fé é o que nos uni”. E não entendo aqui apenas como fato religioso, mas perpasso essa conceitualização entendendo fé em acreditar que somos um povo unido – mesmo com tanta diversidade – devido ao acreditar em melhoras, acreditar em reconciliação, em acreditar na humanidade, no outro, possuímos essa união. 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Feliz Ano Novo....


                Eu fico me perguntando se o ano termina mesmo? Será que ele acaba? Será que podemos dizer que ele teve um fim? Ou será que nós, de alguma forma, carregamos tudo o que passamos para esse "novo ano" - que começa e que envelhece tão rápido numa novidade tão aclamada e esperada que se desfaz em instantes? Sem nos darmos conta que o novo só existe porque aconteceu um velho?  Para o ano chegar... Ele passou...
                Não destrua o ano que passou! Não destrua o que você viveu!Sinto na boca de muitos uma força para matar o passado, para acabar com o que foi vivido e o que foi construído... Tudo é construção, boas ou más, mas construções que lhe fizeram subir para mais um ano. Ame o ano que passou e aguarde o que você amará a partir de hoje...
                O ano não termina... O que termina são as paixões, as tristezas, as derrotas e até as vitórias do ano... O ano vai continuar mesmo que nós não estejamos mais aqui... As coisas terminam quando nós terminamos, quando nós não "passamos", não de um ano para o outro, mas de um dia para o outro, de uma vida para a outra vida...

                Feliz ano novo? Diria feliz dia novo, feliz sentimento novo, feliz abraço novo, feliz a toda a novidade que não depende do calendário, mas da juventude que eu coloco em minhas relações. O ano só é novo quando fazemos de cada dia um pouco de uma nova novidade.

Clarice Lispector e a Filosofia (Parte 1 de 3)

Clarice Lispector foi uma escritora do século XX que despertou e ainda desperta a paixão em cada um que a lê pela primeira vez.  Ou se ama, ou se odeia Clarice. Essa é a minha certeza.   Sua importância para a literatura pode ser descrita como a Kafka da ficção latino-americana como um renomado tradutor americano de Gabriel Garcia Márquez, Jorge Amado, Mario Vargas Llosa e da própria Clarice disse, chamado Gregory Barbosa. Guimarães Rosa respondeu quando perguntado sobre ela: “Clarice, eu não leio você para a literatura, mas para a vida”.
            Muitos já se debruçaram sobre possibilidade de unir Clarice e a Filosofia. Encontramos dissertações de mestrado, artigos científicos e até tentativas de diálogos entre ela e grandes nomes da filosofia como: Martin Heidegger, Deleuze e Walter Benjamim.  
            Nossa tentativa nesse artigo não foge desse principio. É percebido em seus textos o sentimento de espanto. E espantar-se é fazer filosofia. Na maioria dos contos escolhidos vê-se um personagem “distraído” com a vida, sem ver viva na vida e como um “acordar” – e aqui podemos utilizar o espantar – faz desse personagem uma nova pessoa, com novo olhar.
            Aristóteles, filósofo grego e uma das bases para toda a filosofia que nascera na Grécia, disse: “Pelo espanto os homens chegam agora e chegaram antigamente à origem imperante do filosofar”. Heidegger utilizando dessa citação trabalhará em seu texto: O que é a filosofia?  (Qu’est-ce que la philosophie?) claramente esse conceito aristotélico dizendo na mesma consonância que:

O espanto é, enquanto pathos, a arché da filosofia. Devemos compreender, em seu pleno sentido, a palavra grega arkhé. Designa aquilo de onde algo surge.  Mas este ‘de onde’ não é deixado para trás no surgir; antes, a arkhé torna-se aquilo que é expresso pelo verbo arkhein, o que impera. O páthos do espanto não está simplesmente no começo da filosofia, como, por exemplo, o lavar das mãos precede a operação do cirurgião. O espanto carrega a filosofia e impera em seu interior. (HEIDEGGER,1999,p.37).

            Os textos de Clarice Lispector claramente demonstram essa categoria da filosofia encontrada em Aristóteles e Heidegger. Seja o espanto de uma senhora que descobre que ainda possui desejo sexuais, seja uma dona de cada que voltando para a casa vê um cego e a partir desse “espanto” repensa a sua vida.
            O livro usado para essa determinada tarefa é uma reunião de 22 contos da autora escolhidos pelas mais diversas pessoas do meio artístico: atrizes, escritores, diretores de teatro e críticos de literatura intitulado Clarice na Cabeceira (2009).
            A primeira coisa que podemos notar antes mesmo de entrar no objetivo da reflexão é o tipo de literatura que Clarice desenvolve vendo no leitor um personagem e também um escritor, diz ela: “O personagem leitor é um personagem curioso, estranho. Ao mesmo tempo que inteiramente individual e com reações próprias, é tão terrivelmente ligado ao escritor que na verdade ele, o leitor, é o escritor”.
            Teresa Monteiro – organizadora do livro – escolhe como primeiro conto o Ruído de Passos onde mostra uma senhora, com seus mais de oitenta anos, ainda possuindo desejo pelo prazer.
            Cândida Raposo que já perdera o marido e um filho não compreende como é possível sentir essa “falta de vergonha” com a idade tão avançada. Acaba recorrendo a um médico que naturalmente tenta responder as aflições daquela dona de casa.
            “– Não importa, minha senhora. É até morrer”.
            “– Mas isso é o inferno!”
            “– É a vida senhora Raposo”.
            Como é interessante ver na frase do médico como a vida caminha com o desejar, com a vontade de viver. Podemos talvez tirar a ideia de que viver é desejar e quem deseja vive. Aqueles que não possuem desejo pela vida logo a entregam e desaparecem. Santo Agostinho trabalha com a ideia de desejo utilizando para o conceito de amor. Para ele existe o amor como desejo, o amor ao próximo e o amor face a Deus. “Amar não é mais do que desejar (appetere) uma coisa por si mesma”.
            Só que no caso da dona Cândida não há mais o que desejar, ou seja, não existe mais tempo para sentir esses desejos, como se a morte começasse a dar sinais de vida logo no final de cada dia. Talvez na cabeça daquela senhora, que Clarice tão bem descreve em apenas duas paginas de conto, aquelas sensações, aqueles desejos, fossem realmente um inferno para ela que não aguardava mais nada da vida. A reação dessa senhora é como um espantar-se: “como a vida ainda me proporciona isso? Por que esses desejos se não tenho mais marido nem alguém que olhe para mim?” Essas perguntas convergem nas questões que ela levanta para seu médico:
            “– E o que eu faço? Ninguém me quer mais...”
            “O médico olhou-a com piedade.”
            “– Não há remédio, minha senhora”.
            “– E se eu pagasse?”
            “– Não ia adiantar de nada. A senhora tem que se lembrar que tem oitenta e um anos de idade”.
       Talvez esse “pagar” que a senhora Cândida insinua, seja a contratação de um profissional sexual, mas o médico descarta essa alternativa devido a sua idade. Resumindo: ela possui o desejo, só que a idade não lhe da condição física para expurgar essa sensação.

   Ao final Cândida acaba se satisfazendo sozinha por complacência do médico, que entendeu isso como uma forma de “remédio” menos “inofensiva” para sua paciente e Clarice, meio que consola sua personagem dizendo: “Sempre triste. É a vida, senhora Raposo, é a vida. Até a benção da morte”. diz Clarice ao final do conto.

(C O N T I N U A . . . )

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Analise do Livro: Contos de Amor, Rubem Fonseca

             Não imaginava que Rubem Fonseca conseguiria escrever sobre o amor. Conheço-o através de um livro que li no ano de 2007 chamado: Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos. Um thriller de ação e suspense que nos prende em cada página e vale a pena dar uma lida. Mas o que venho mostrar hoje é outra faceta do mesmo autor.
                Contos de Amor é um pequeno livro para se ler um pouco de cada vez, sem presa de querer termina-lo. Uma coisa que aprendi nesses poucos anos e breves leituras que fiz é que ler conto é ter calma. Ou seja, não tenha pressa em quere acabar com o livro. Dê pausa de um conto para o outro. Da mesma forma que a poesia é feita de sabores, o conto também tem a sua necessidade de degustação. O leitor deve ler um conto, fechar o livro e pensar sobre aquilo, querer entender tudo aquilo.
                Os contos de Rubem Fonseca, e de maneira particular, esses em que me proponho falar pedem essa didática: uma calma na leitura. De forma às vezes áspera, às vezes erótica e até às vezes cômica, ele propõe mostrar o que é o amor em diferentes vertentes e modo de se caracterizar.  Temos o amor entre homem e mulher (conto: Mulheres e Homens Apaixonados), entre o homem e o animal (conto: Betsy), o amor em forma de traição (conto: A mulher do CEO) entre outros que valem a pena ser lidos.
                Para quem deseja uma leitura divertida e ao mesmo tempo em que brinca com as questões do amor, vá atrás desses contos.

David de Michelangelo - O Anjo Interior

       O texto que segue abaixo relaciona-se com o livro O Anjo Interior de Chris Widener.  A história conta de um homem que esta com seus trinta anos e não vê sentido na sua vida pessoal e profissional, pois trabalha aonde não quer e ganha menos do que acredita que deva ganhar. Será nesse contexto que ele encontrará com um senhor no meio de uma praça na cidade de Florença na Itália e esse homem, de mais de oitenta anos guiará ele, utilizando da história da escultura David de Michelangelo, em uma descoberta do “anjo interior” que cada um possui e que precisa achá-lo para ser feliz pessoalmente e profissionalmente. “Existe uma obra prima dentro de cada um de nós, esperando para se revelar”.
            A pedra de mármore que Michelangelo utilizou para  esculpir o David foi cortada para ser trabalhada antes de Michelangelo nascer, mas três artistas antes dele renegaram a pedra pois não viam o que poderia ser feito com ela. Até Leonardo da Vinci renegou fazer algo com aquela pedra de mármore, primeiro porque considerava a escultura uma arte menor e segundo porque não via no mármore nada alem de mármore. David estava lá desde o começo, mas foi preciso depois de três “não” Michelangelo surgir e transformar aquilo em obra de arte.
            Há inúmeras estatuas de David, mas a de Michelangelo possui uma característica diferenciada que é a imagem de David antes da batalha com o Golias. A maioria das esculturas e imagem mostram ele após o combate com o gigante e com a cabeça do Golias ao chão. 
            Ele faz ao contrario, pois quer mostrar a situação política da época. A Itália não estava unificava. Havia muitos feudos e cidades, como Florença, que viviam constantemente preocupados com ataques de exércitos. Naquela época estatuas valiam por sua beleza, é claro, mas também serviam como afirmações políticas de poder. A de Davi foi feita para ficar em um lugar importante, com o intuito de dar um recado ao povo de Florença e a qualquer um que pensasse em atacá-la.  A confiança que Davi sentia antes de sua batalha era a mesma que o artista queria que Florença mostrasse a quem pensasse em conquistá-la.
            A estatua do Davi nos ensina também a dar valor aos detalhes. O fator que torna uma estatua conhecida por homens e mulheres de todas as culturas é a ênfase nos detalhes.  “A maioria das pessoas realiza trabalhos de qualidade mediana. Algumas ficam acima da média. Os mestres, aqueles que obtêm enorme sucesso e estabelecem os padrões para os outros, são os que dominam os detalhes”. Isso demonstra como os grandes artistas preocupavam-se com os detalhes, pois estudavam muito anatomia e dessecavam cadáveres para ver como funcionava os músculos e as articulações para depois colocarem isso em seus pinturas e esculturas.  
            Michelangelo era escritor também. Tanto quem em um de seus sonetos demonstra que pensamento sem ação não valem de nada.

         O mármore ainda não esculpido pode conter a forma
         de cada ideia que o grande artista tem
         mas nenhuma concepção jamais vai se realizar
         a menos que a mão obedeça ao intelecto

            Michelangelo sabia que o nosso mundo, assim como a estatua é necessário uma junção entre o brilhantismo da mente com a firmeza e habilidade das mãos.
            A escultura vai nos ensinar também que é necessário planejamento. Não daria certo pegar uma pedra de mármore e lascar o cinzel nela e ver no que vai dar. É preciso planejamento.  Toda obra de arte necessita de desejos, formas, contornos. Nenhum artista vai quebrando o mármore sem ter já criado no papel, ou em outros protótipos aquilo que ele queira que vire aquele pedaço de pedra.
            E o interessante é perceber que “ninguém começa pela capela cistina” ou seja, ninguém começa por cima, é necessário uma luta, até Michelangelo chegar na capela cistina ele teve outras obras de arte.

Bibliografia:
WIDENER, Chris, O Anjo Interior. Rio de Janeiro, Sextante, 2009.

Analise do Livro: Os Espiões

           O livro Os Espiões é um romance do autor Luis Fernando Veríssimo muito conhecido por causa de suas crônicas engraçadas. A obra aqui analisada foge um pouco das características do autor que trabalha com suspense e mistério.
                O enredo do livro é sobre um editor que analisa textos para publicação na editora em que trabalha e em uma de suas análises encontra um texto de uma mulher desesperada que diz que matará seu atual marido como vingança pela morte de seu grande amor e depois suicidará. O editor fica atônito com a história e começa a embrenhar-se no misterioso mundo de uma pequena cidade de onde a autora escreve essa confissão.

                Por mais que não seja a centralidade da obra, Veríssimo não consegue se desvencilhar do humor, usando em diversos momentos desse recurso quebrando um pouco o ritmo frenético do romance que se lê em poucas horas.  Essa é uma boa dica para quem gosta de suspense, com doses de comédia e com as características próprias de uma autor que escreveu entre outras coisas, livros como: A Comédia da Vida Privada, As Mentiras que os Homens Contam, entre outros clássicos da literatura de humor.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Analise do Livro: O Homem Invisível

           O livro O Homem Invisível foi escrito no século XIX pelo famoso escritor H.G. Wells que tem em sua estante além de outros títulos a famosa obra que inspirou o filme chamado: A Guerra dos Mundos. Esta obra que esta sendo analisada conta com muito suspense, uma ágil literatura, ou seja, um livro onde a história não para em nenhum minuto, como um filme que prende o olhar do primeiro ao último minuto.
           Um cientista consegue, através de diversos experimentos, tornar-se invisível e aquilo que seria uma dádiva, logo torna-se um grande problema fazendo-o desesperadamente querer reverter o processo. 

            A leitura é de fácil agrado e os capítulos prendem o leitor que deseja logo no inicio da trama ver o resultado daqueles problemas que o homem invisível começa a se meter. Para quem gosta de livros para se ler numa única tarde, sem compromissos e com grandes doses de suspense e ação, está ai uma boa leitura. 

domingo, 22 de junho de 2014

Educação sem educação?


            A palavra, o conceito e até mesmo suas utilidades já foram amplamente discutidas e continuaram a ser discutidas ao longo da nossa história: a importância da educação.
            Bem sabemos que a educação é considerada por muitos como a base de um futuro, senão perfeito, pelo menos o mais próximo do perfeito para um país. Presidentes defendem, astros de televisão elogiam e até mesmo o pipoqueiro fará sua apologia. Por isso, o que leremos logo abaixo não será uma defesa da educação, nem mesmo um tear de elogios sobre suas consequências, mas a tentativa de responder, minimante a seguinte questão: o que caracteriza uma boa educação? Os formandos que saem das universidades saem educados ou apenas formados?
            Os dois termos deveriam andar juntos no caminho educacional do jovem. Formar e educar são coisas que eu entendo como distintas, mas que juntas formariam não só grandes profissionais, mas também grandes seres humanos. Andamos talvez formando jovens e educando ninguém.
            Formar é colocar numa fôrma, num molde, num jeito, e isso quem faz é a profissão. A forma do médico, o molde do arquiteto, ou seja, aquilo que caracteriza a profissão da pessoa. Agora educar é um trabalho além de formar, é dar ao ser humano bases para ele relacionar-se com as formas e fôrmas dos que estão a sua volta.
            A meta da maioria dos alunos que cursam o Ensino Médio é entrar na universidade e sentirem-se como aqueles corredores que levantam os braços quando aproximam-se da fita presa no arco de chegada de uma longa corrida, com a sensação dever cumprido. Só que em nenhum momento passa pela cabeça desses corredores frenéticos em busca de diploma o que se levou na bagagem além de saber quantos pontos seriam necessários para conseguirem a aprovação em determinado vestibular.
            O método de ensino que encontramos na maioria das escolas (e principalmente nas particulares) é o método da maratona. O fim é a entrada na universidade. O que será de você? O quanto bom você será enquanto ser humano, isso não é problema deles – há não ser que esteja descrito no contra cheque da mensalidade.       O importante é “meu” aluno estar dentro da federal, da estadual ou de uma conceituada instituição de educação superior.
            Essa é a educação Tão superior que diariamente nossos alunos são bombardeados do primeiro ao último professor: o seu futuro, é o seu diploma. O grande ensino superior é esse: formamos médicos e engenheiros e ponto. E ponto. E ponto. Transformando-se em reticências, em assunto não acabado o que seria educação.
            Jonh Stuart Mill, filósofo e economista do século XIX dizia que: “O propósito das universidades não é produzir advogados, médicos ou engenheiros competentes. É criar seres humanos capazes e cultos”. No século XIX ainda formavam advogados, médicos e engenheiros competentes, isso já era alguma coisa.
            Vamos percebendo que a nossa educação ficou tão educada com a didática do capital que um diploma, mais do que um premio a inteligência, tornou-se um bônus salarial. O comércio como brilhante professor que é, educa tudo, inclusive a educação. E  ela que de boba não tem nada, logo tornou-se a primeira da classe.
            Esse modelo econômico educacional que infiltra-se nas salas de aula é nitidamente percebido quando pensamos que um graduando moderadamente aplicado consulta em média oitocentos livros ao longo de seu processo de formação e isso é muita coisa quando percebemos que hoje lemos mais que Agostinho e Dante leram na suas épocas.Então porque não encontramos Agostinhos de Hipona nos corredores universitários? Estamos encontramos eu acho, muito mais Agostinhos como aquele do seriado da Grande Família.
            Alain De Botton em seu livro Religião para ateus diz que: “o problema está sem dúvida em nossa maneira de assimilar, não na extensão de nosso consumo [...] Nenhuma das instituições seculares dominantes tem um interesse declarado em nos ensinar a arte de viver”. Será nesse livro que ele entenderá, como ateu, o modelo pedagógico religioso como um modelo a ser imitado na sociedade secular em que vivemos.  
            O cristianismo tem como educação mudar a vida enquanto a educação secular preocupa-se em passar informação. Assim formamos médicos, advogados e professores e não pessoas educadas, preocupadas com os outros, cidadãos verdadeiros. “A educação secular fornece aulas, o cristianismo, sermões. Em termos de intenção, poderíamos dizer que uma se preocupa em transmitir informação, a outra, em mudar nossa vida”.
            Talvez precisemos parar e analisar um pouco o que temos dentro de nossas salas de aula: diplomas,profissões ou seres humanos que diariamente relacionam-se com os outros e convivem com seus fracassos e vitórias.
           
Bibliografia
BOTTON, Alain. Religião para Ateus. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011.